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Estátisticas

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08 julho 2012

Mau hábito alimentar requer campanhas
















A imagem do Brasil como um país desigual não se sustenta apenas em pesquisas acadêmicas.
Uma simples observação nas grandes cidades leva a esta constatação. Tem havido melhorias na má distribuição da renda, mas a redução das desigualdades é um processo lento, pois ele depende de fatores de longa maturação, como o nível de instrução da população.
Outra imagem clássica do Brasil é a de um país de famélicos. A subnutrição pátria está retratada na literatura, na música, na poesia. Há obras-primas inspiradas no sofrimento do nordestino em períodos de seca, por exemplo. Como não poderia deixar de ser, a fome costuma ser tema explorado em certo discurso político.
A subnutrição, principalmente a infantil, ainda é problema, embora já tenha sido mais grave.
Neste ponto, porém, pesquisas e estudos têm sido menos pessimistas que políticos e artistas.
O candidato Luís Inácio Lula da Silva levantou, na campanha de 2002, a bandeira do combate à fome. Sensato, aparece no documentário “Entreatos”, feito pelo cineasta João Sales sobre os
bastidores daquela campanha, dizendo-se cético quanto a estimativas de que haveria 50 milhões de brasileiros famélicos.
Considerava e tinha razão o número muito elevado, irreal.
Mas, como política é política, a demonstração de sensatez registrada no filme não o impediu de converter o frustrado programa Fome Zero no Bolsa Família a consolidação sob um único nome das linhas de assistência criadas no governo FH.
De grande apelo eleitoral, o Bolsa Família foi expandido até chegar a atingir aproximadamente 13 milhões de famílias ou, direta e indiretamente, cerca de 50 milhões de pessoas, aquele mesmo número cabalístico que Lula rejeitara na campanha.
Na semana passada, o IBGE divulgou os resultados da mais recente Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF), referente a 2008-2009, com a consolidação do quadro revelado no levantamento anterior: não existe mesmo no Brasil aquela fome que grupos políticos denunciam em campanha. Na penúltima POF, o índice de pessoas de baixo peso era de 4%,
menos que a taxa de 5% aceita como normal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O problema no Brasil passou a ser outro: o avanço da obesidade, como ocorre em sociedades afluentes. Segundo o IBGE, 49% dos brasileiros já se acham acima do peso. As crianças não escampam, com 33,5% delas gordas e 14,3% obesas.
Coloca-se, então, mais uma tarefa para o poder público: campanhas para melhorar os hábitos alimentares das pessoas e incentivos à prática de exercícios físicos, inclusive com intervenções
nas cidades para a criação de áreas de lazer, como indicou o médico Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, em artigo publicado no GLOBO.
É possível que o bunker dirigista que funciona na Anvisa aproveite a última POF para reforçar seus ataques à publicidade de alimentos industrializados para crianças. Será novo engano. Por que não estabelecer novos parâmetros para a indústria no uso de sal, gordura e açúcar? É um equívoco achar que a supressão da propaganda alterará hábitos de consumo.

Fonte: O Globo, Rio de Janeiro, 31 ago. 2010, Primeiro Caderno, p. 6.

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